Ok Computer, Radiohead

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Eu não sou do tipo saudosista. Não gosto de reviver passado, nem sequer sinto muitas saudades do que já foi. Do que não foi… Talvez, não sei. Eu acho que se tem algo de que eu sinta falta é daquela sensação, daquele sentimento amplo de confiança que só se tem no final da adolescência. Quando não há nada a perder. E quando qualquer experiência é ganho.

Mas há aquele momento em que a chave vira e sem mais nem menos as mudanças nos apavoram. Eu não sinto propriamente saudade da adolescência e suas inseguranças. Eu sinto falta da coragem. Sentir saudade e sentir falta são dois sentimentos tão díspares, que eu me pergunto como podem compreender a si as pessoas cujas línguas maternas não fazem essa diferenciação.

Hoje eu olho para o passado, não isenta porque isso não existe, mas perdoada. (Tá aí uma palavra que nossa língua não nos deu. Aquela sensação de inteireza – não de integridade porque chega uma idade em que sempre haverá um pedaço faltando – de quando perdoamos a nós mesmas).

Música é viagem no tempo. E houve um tempo em que eu rompi com tudo que era meu. Foi o maldito do medo, ou a maldita da segurança, ou a falta que me faltava. A falta daquela pessoa que havia me formado e que por alguma razão eu havia deixado para trás porque eu não queria que ela me deixasse saudade. Então eu fui deixando que as coisas se transformassem e fui adentrando um novo mundo que me foi apresentado e com o qual eu fui me acostumando aos poucos sem deixar espaço para me perguntar se era aquilo mesmo. Se aquilo tudo fazia sentido.

Para deixar as coisas andarem e andar com elas eu precisei me conciliar. Sentar aqui e escutar uns conselhos de mim para mim mesma em som e em viagem, algo que eu fazia e deixei de fazer não porque tenha deixado de ser importante. Mas eu deixei. Junto com outras coisas importantes que agora eu tomei para mim.

Agora, hoje, nesse momento, as coisas são felizes. É um outro tipo de alegria, fundada nas pequenas coisas que faço sabendo porque faço. No que há algum tempo me pareceria solitário, agora é pleno. Porque eu dou conta de mim. É uma felicidade cheia de perdas, agora que aprendi a lidar com as contradições.

Uma atividade medíocre nessa vida é tirar pó. Todo dia você tira e todo dia o pó está lá. Foi a atividade mais libertadora que eu já fiz, abrindo propositalmente uma caixa para escapar todos os meus demônios, todas as coisas tortas que se criaram feito um musgo seco em mim. Eu tinha sede de me escutar. Me desempoerei inteira.

Tirei os discos de onde eles haviam sido guardados e escondidos e os distribuí pelas prateleiras sem nenhuma ordem. As coisas não precisam de ordem. Precisam de sentido.

Quem era eu? Quem éramos nós? Nós éramos, há vinte anos, uma geração sem acontecimentos, sem futuro e sem presente, sem perspectiva, sem heróis, sem crença, sem verdades. Já tinham construído e destruído tudo por nós. Queríamos nos entender. Queríamos ser nós mesmos. O que nós éramos? O que nós somos? O que eu sou? Eu não sei. Eu estou aqui. O que foi não me interessa.

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